o big bang magístico da arte estética e performática carioca
Num universo em constante expansão, formam-se essas estrelas. Veem-se imersas num ambiente infinito de escuridão. Dá para perceber adversidades contra aqueles que as cercam. Planetas, vez ou outra, têm de enfrentar meteoritos que os chocam causando impactos superficiais - sim, apenas superficiais. Isto porque o brilho da vida dentro deles independe de fatores externos danosos. Ela é alimentada pela luminosidade dos corpos celestes de luz própria.
As estrelas-drag são esses pontos de luz de uma cena de multiversos. Aquele universo do qual fazem parte diz respeito a um nicho de seres que têm de lidar com opressões ligadas à sua origem. É uma bolha universal, de fato, que é afetada por outras dimensões, mas que tem componentes únicos: aqueles que se enamoram por semelhantes a si. Há um universo do amor impossível, em que um sol pode se interessar por um minúsculo satélite; tem também aquele no qual raças distintas de seres vivem em assíduo conflito porque não se admitem.
Mas o caso em questão é diferente. O espectro de personagens é extenso, mas as protagonistas são as expressivas. As que exprimem o “eu” de maneira artística, de essência mística e condizente com seu espaço sideral. As transformistas, no princípio, mimetizavam realidades até, finalmente, encontrarem - ou chegarem perto - da própria. Enxergavam nos corpos femininos uma performance que não lhes era devida. E com o tempo as referências mudaram. Fato é que não é possível dissociar a arte de iluminar da condição de sua existência.

O VÍCIO
A Madamme Bellial, que percebe-se indefinida, corrobora a ideia. Sua arte emana um incômodo interno, disfórico, tóxico. Por muitos anos, não entendia a razão de ter sua superfície manchada de tanta escuridão. Teve como referências o que era carregado por sons de rock e personalidades com quem se identificavam os não convencionais. Bellial não é apenas um ser, mas um espectro performático que faz sentido por meio do exorcismo de todo sofrimento que a inconformidade traz.
Nasceu como Lady Padê. Entretanto, não conseguiria se livrar da sujeira, mesmo na tentativa de expurgar o vício de si. “‘Matei-a’ porque nunca pararia de me drogar”, confessa. Finalmente, deu-se conta de que seus demônios internos poderiam ser batizados. São muitas características pessoais com as quais teve que lidar por lhe fazer mal. Então, por que não usar a expressão artística drag para tratar todos eles? Por isso o nome demoníaco [Belial é o 68º daemon da Goécia]: uma constante expulsão de energias, pensamentos e comportamentos ruins.
As transformistas, consideradas os verdadeiros astros, lidam de maneira peculiar com a opressão à qual são submetidas. Incorporam arquétipos, personagens ou identidades artísticas para dar a perspectiva iluminada das coisas, a essência gnóstica da realidade. Pode não ser conscientemente, porém imprimem em suas performances mensagens políticas e internas, com as quais existe possibilidade de identificação. Elas se pintam de modo que possam ser apreciadas de longe (física e virtualmente). Travestem-se de signos para dar sentido ao ato.
Então, em uma infindável quebra de padrões, Madamme Bellial incorporou um demônio hermafrodita, sem sexo definido. De acordo com os pós-modernos, “não-binário”; no paganismo, a representação do absoluto. Mas para a drag, uma figura anticristã com a qual decidiu trabalhar artisticamente após reflexões sobre questões relacionadas a gênero. Assim, sob forte efeito de entorpecentes, pariu sua persona. “Em uma viagem (de drogas), muuuito chapada (de ilícitas), veio a Madamme Bellial!”, revela.
“Tem que ter nome e sobrenome. Surge Madamme porque, sei lá! Eu salvei o Bellial, que é um demônio de mangá/anime, o Angel Sanctuary. Lá essa personagem cai do céu e vira esse ser só por não ter sexo definido. Drag pra mim é exorcizar seus grandes demônios!”, a artista explica, o que se relaciona com o estilo “tranimal”, interpretação animalesca da drag. Complementa-se a isso a estética industrial e fetichista de Bellial, bem como influências do movimento club kid, formado por pessoas que se vestiam e se maquiavam de maneira excêntrica - logo, para chamar atenção.
Os pequenos (ou imensos) sistemas solares são seus grandes shows. Do planeta mais próximo da luz do palco ao mais distante da mesma, há vida na plateia. Estão ali na intenção de fotossintetizá-la por meio da arte e do entretenimento - da cultura. Esses corpos são inconformes, não se sentem parte do universo; demora para se darem conta de que compõem o próprio. Os do fundão são os mais distraídos na própria rotação. Os do meio estão ocupados com relações, possíveis em razão do movimento de translação. Quem dentre a audiência está próximo do palco é mais atento e sedento.
Todos têm algo em comum, que é se apaixonar por semelhantes. A crença multiversal institucionalizada é a de que apenas corpos de naturezas distintas devem se relacionar. Isso causa demasiada tensão em discordantes naturais que se sentem pressionados a adotar comportamentos com os quais não há identificação. Isso torna planetas frios. Faz com que muitos não vejam sentido na própria existência. Contudo, são reais como qualquer astro do sistema, da galáxia, do universo ou multiverso.

PARA ALÉM DA DOR
A estrela transformista Nebraska Andrômedah passou por semelhante construção de sentido da própria realidade. A adolescência imersa no obscurantismo de crenças a levou ao desenvolvimento uma tristeza profunda. Foi no ser artista que pôde encontrar uma maneira de rejeitar todos os conceitos ancorados em fundamentalismo que lhe foram impostos. Na expressão mais genuína da sua alma, ela é uma entidade caída, proveniente de Andrômedah. A persona é uma ode à cultura pop e à astrologia, um astro consciente de sua origem e aspirações.
“Eu sou um alienígena que veio de uma fuga em massa de uma [galáxia] distante. Quando caí na Terra, fui possuído por um demônio que respondeu a algumas perguntas sobre meu passado e me deu olhos especiais. Sozinha, vago pelas eras tentando fazer todos se perderem como eu me perdi, e esperando o anticristo para servi-lo”, narra seu conceito. Ela se vê como alguém necessário, revoltado e questionador que alerta por meio da arte. “Sinto que esquecem da realidade quando vão para um show de drag, e eu tento trazê-la e te lembrar que o [universo] não é bom lá fora, então não vai ser também aqui dentro!”.
Apesar da difícil odisseia no espaço até chegar onde está, a solidão não é uma realidade com a qual Nebraska tem que conviver. “Eu tenho uma haus, que é minha casa drag, e eu a amo. Sempre tivemos uma relação de família muito forte e isso é uma das coisas que me ajudou muito no início da jornada”, conta emocionada. “Nós nos ajudamos com a criação visual (maquiagem e cabelo), temos acesso a bazares para ver peças e até a desfiles de carnaval pra pegarmos roupas e acessórios”. A Haus of Scarllet também faz customizações nas montações, para finalizar de maneira que a represente.

SAGRADAS INFLUÊNCIAS
E é nesse lugar de bailes carnavalescos, na galáxia Rio, que se transformam os corpos mais afetados do universo. Talvez seja a proximidade do mar e sua rainha-sereia Iemanjá, ou por ser uma região de interseção entre o axé do Nordeste, o ar seco do Centro-oeste e os delírios do Sul. E se for considerar imagem e popularidade, é o ponto mais promovido de uma determinada região sideral. Não menos relevante que as proposições anteriores, a multiculturalidade e a história sugerem pioneirismo e repertório.
Quem tem referências locais e íntimas para construção de um repertório de modelos a seguir é a Madalena Langdon. Tem como grandes influências transformistas do Rio que participam de concursos ou de espetáculos. Madalena estava assistindo a um show de Gui Mauad e Luna The Witch quando teve seu interesse pela arte despertado. “Elas me passaram algo tão bom, uma energia tão boa, uma sensação tão única naquele palco que tudo que eu pude pensar foi que eu também queria causar aquilo nas pessoas”.
Foi então que esse simples astro feminino se deu conta de que estava em órbita ao redor de grandes estrelas transformistas, e que poderia também se tornar uma. Tinha luz própria e precisava iluminar outros também. Anos de admiração por Palloma Maremoto, também mulher e drag, a fez se sentir segura para seu primeiro momento como artista performática. Em uma primeira experiência de montação de Madalena, a tia causadora de tsunamis cósmicos se tornou uma mãe drag para um recém nascido.
Uma nova estrela que surgia pelas mãos de forças de influência. A magia da arte é sutil e faz com que não percebam facilmente o dom para ensinar e entreter. Isso porque tal prática também é transmissão de conhecimento, além de iluminação. Podem ser sintetizadas depois de um espetáculo; ou por outras concepções no multiverso que percorram (ou burlem) o espaço para despertar ao brilho aquele de vocação artística. Fala-se aqui de mídia? Sim, informação propagada de modo massivo e virtual. Contudo, para conceber um artista, ainda mais transformista, a noção de haus se mostra essencial a alguns (antes muitos).
Lançando mão de conceitos originários da cena dos balls (desfiles ou concursos realizados por grupos marginalizados na galáxia do Harlem - negros e latinos homossexuais), drag queens agora formam haus (casas astrológicas) em que corpos celestes se auxiliam na produção de trabalhos artísticos. É próxima, mas não é exatamente a mesma ideia de drag family (família transformista) porque, obviamente, nem sempre parentes moram na mesma casa. Uma estrelinha se associa a determinada haus por identificação, deveras. Ainda assim, o valor sentimental atribuído ao berço é intenso por se tratar do começo e primeira referência identitária local e imediata.

“A Palloma é um nome bem forte aqui. Ela teve um papel muito importante no Rio para as drags mulheres entrarem para a cena com a mesma facilidade que eu. Militante, perfeita! Se hoje eu estou onde eu estou, é por causa de mulheres como ela que lutaram antes de mim”, declara a artista nascida há poucas meses. E essa noção de representação feminina reflete na origem do seu alter ego enquanto performer. Por se identificar com conceitos de céu e inferno, ela adotou a conotação sexual da personagem Maria Madalena, porém a transmite da forma mais pura, por se tratar de uma santa.
O COSMOS
Em termos cósmicos, entre micro e macro, há níveis de interpretação estética e performática dessa representação da santidade - ou do espectro demoníaco. O nexo esotérico, que estabelece relação com forças astrais divinas, dá conta das expressões artísticas que incorporam demônios e anjos. Trata-se, por conseguinte, da esfera macrocósmica que estrutura essencialmente a arte e seu sentido, que explicaria os significados das performances e que imagem roupa e maquiagem querem eternizar.
Contudo, o microcosmo está enraizado na matéria. No que o homem pode ver com os próprios olhos, e não espiritualmente sentir. Diz respeito aos ambientes físicos onde acontecem shows, às pessoas que frequentam, àqueles que aparecem para mostrar suas habilidades da arte. Também às casas e indivíduos com os quais se pode ter apoio; bem como à mídia que contribui metafisicamente para a percepção mais superficial da transformista, logo, produto cultural.

A PRODUÇÃO DE PERSONALIDADES
Essa lógica industrial fabrica um padrão. Está de acordo com o ponto levantado por Dalie Thernick, alguém que foge do convencional. “Temos aquela padronização do que é drag. O que era pra ser algo sem limitações e inusitado tem sido cada vez mais padronizado, de forma que só pessoas ‘belas’ ou ‘polidas’ são consideradas boas artistas”, critica. Ainda assim, a estrela-drag vê o que há de positivo no massivo. Mais pessoas podem conhecer e não apenas assistir, mas também fazer - e de um jeito independente e autêntico.
Como é o trabalho que Dalie realiza? Em desenvolvimento, podendo alcançar novos moldes, considera-se mais próxima do club kid. É uma criatura desse universo, ou não - a interpretação é livre, depende do público -, em busca de novas maneiras de se camuflar e de experimentação. Não se encaixa em gêneros, vai do feminino ao andrógino. “Nunca dá pra esperar que eu faça a mesma coisa repetidas vezes”, garante. Thernick é como um desenho que toma vida e externaliza um ato ou sentimento de um modo que toque outros.
INFINITUDES DE MANIFESTAÇÃO
Essa leitura não necessariamente humana também está presente na persona de Co Kendrah. Seu estilo se encaixa no club kid mais puxado para o horror, o grotesco, o sujo e o demoníaco. Gosta de incomodar, causar repulsa e de levantar questionamentos sobre o que é considerado arte e o porquê de, eventualmente, não se fazer legítimo. “Então, fico feliz quando gero mesmo desconforto, mais do que quando se sentem tranquilas e dizem ‘ah, que bonita a sua drag!’. Eu prefiro que falem ‘o quê que é isso?!’, ou quando encostam em mim, se sujam e soltam ‘cara, vindo de você eu deveria esperar que estivesse suja de tinta e sujando todo mundo’”.
O limite para estrela é desconhecido, ninguém sabe o que esperar de Co Kendrah. Isso em razão de suas referências não serem fixas. Na mídia digital, pelas redes sociais, encontra visuais e desenvolve a partir dali uma performance. Pode ser uma roupa ou efeito de maquiagem que queira fazer, daí vai assentando os elementos. Porventura, tem uma música em mente que quer usar num show e, com o amadurecimento, encaixa novos elementos que estruturam o espetáculo. Ela também bola conceitos que vai adaptando à música.
Toda a produção visual exige adaptações e ajustes, já que nem toda drag tem domínio total sobre confecção de roupas, adereços, próteses ou de partículas cênicas. Kendrah não costura, vai na cola quente mesmo até formar o look imaginado para a história do dia que deseja contar, ainda que não saiba modelar peças. Drag não é desfile de moda, nem programa de design e costura - apesar de exercerem forte influência sobre os estilos do gênero performático que se consolidam nas mídias digitais. Assim, a artista pega body e corpete, e desenvolve a partir de então. Talvez sobre a própria pele.
“Numa montação de sereia gótica, colei concha e musgo pelo meu corpo. Já fiz a mesma coisa com páginas de livros”. Tendo a si mesma como tela da arte visual, a abstração leva aos resultados mais excêntricos, como quando fez um sobretudo de papel de churros ou uma headpiece de biscoito Globo. Na maquiagem, “as artísticas faço mais rápido; as mais humanas demoram um pouco. Olho e boca, tudo isso leva tempo”, esclarece sobre as diferenças entre uma linha mais livre ou inspiracional e outra mais técnica por seguir os contornos profissionais.

SEGUINDO TENDÊNCIAS PRIMAVERIS
Este último atrai os estilos de estrelas-drag que têm na moda e em seus padrões estéticos femininos uma das icônicas imagens almejadas para consolidação de uma personalidade iluminada. Flashes de câmeras não são necessárias porque já tem luz demais no ambiente, emanando das performers fashionistas - aquelas que modelam para rede social, e desfilam para uma plateia de olhares sedentos por uma nova Naomi Campbell ou Gisele Bündchen, agora do transformismo e não da indústria da moda. É possível que fiquem faltando um Gianni Versace ou Alexander McQueen para produzir uma modelo-drag 90’s impecável.
Entretanto, apesar da contemporaneidade do sistema transformista seguir a tendência líquida de uma estetização multiversal, os sentidos se fazem presentes na maneira como traduzem os modelos virtuais de beleza para o público numa expressão artística. Usando melodias, cenas de ícones da cultura projetados em telão ou artifícios cênicos estruturados por figurantes da apresentação, acontecem personificações de comportamentos (crítico ou não) que vão além da roupa ou maquiagem do dia que qualquer corpo celeste ostente.
Moda marca uma época e não se desvencilha de qualquer indumentária na qual uma transformista entre. A performance pode estar ambientada em tempo específico, com traje determinado de fácil identificação que, assim, situará no tempo os astros em translação ao redor de si. E fora dos momentos de show temáticos, e ainda que cada transformista tenha seu estilo, qualquer um está sob os ditos estéticos - do que é belo, usável, terrível e descartável. É um referencial para o que está sendo realizado naquele tempo, mesmo que o atual seja ligeiro e como poeira cósmica... escapando entre os dedos e destruindo, se bobear!
Mas quem fica e não se vai são personas como Lotus, uma drag que se inspira em estrelas do palco e da passarela. O estilo da sua haus é bem polido por intensas diretrizes de tendências, só que Lotus está apenas em construção e demonstra uma propensão à versatilidade. Inteligente, atenta e poderosa, conquista com seus movimentos aclamação em forma de gritos e aplausos. Energia e força vivas, a performer vai além da sua família que está ali para incentivá-la, avança sobre os que estão mais perto para venerá-la e ecoa no fundo da boate.
A idealização de cada montação e performance é instintiva. De letra e música a cenário e caracterização, acontece uma explosão de ideias que se desenvolvem e que nem mesmo no show encontram seu fim. “Como um sonho, como uma situação engraçada, como um assunto sério, uma colocação totalmente diferente da situação”, é dessa maneira que processa imagens e conceitos. Considera difícil aperfeiçoar de maneira que quem assiste compreenda a informação sendo comunicada, em surpresa e excitação.

Uma sedução pela arte, com efeito, é o que ela exerce. Sua origem tem a ver com a magia da sexualidade, tão natural como uma flor (de lótus). Essa é capaz de germinar, desafiando o tempo, em séculos. Isso se relaciona com o renascimento, que dialoga com a reinvenção da jovem performer. Ela aparece da lama, e se destaca em meio a impurezas. Não tem natureza estática, sempre segue o que pode contribuir para a sua maturidade estética, conceitual e identitária como artista.
COMO EVOLUÇÃO ESPIRITUAL
“Under a silver moon, tropical temperature; I feel my lotus bloom, come closer”, Lotus ouviu de Katy Perry, uma estrela de outro gênero [universo] artístico. Exprime o vigor sexual, prazer aguçado e sentimento que consome, além de um crescimento espiritual essencial na definição de cada pétala de influência que definirá, no fim, seu papel astral aqui. Porque apesar de não ser religiosa, carrega muitos simbolismos, conscientemente. Achou que seriam características que dariam o tom de sua flor.
“No simbolismo budista, o significado mais importante da flor de lótus é pureza do corpo e da mente. Na literatura clássica de muitas culturas asiáticas, a flor de lótus simboliza elegância, beleza, perfeição, pureza e graça. No yoga, a posição de lótus é a postura tradicional de meditação. Na mitologia grega, flor de lótus é uma coisa que muitas pessoas desejam: a possibilidade de começar de novo, de renascer e apagar o passado”, explica. E a transformista não escapa da metáfora do universo se expandindo enquanto flor aberta, a etapa seguinte à expectativa de infinitas possibilidades que se concentram num botão.
A inspiração pela natureza mágica e espiritual que cerca essas entidades planetárias cai na crítica à sua própria destruição. Em performance, Mady Beeong encenou a decadência e interpretou dor e sofrimento de uma criatura de flores, galhos e folhas. Sem voz, sem grito... sem protesto de escândalo. Apenas uma música de Aurora e movimentos que contavam o conto da quase morte e, conquanto, renascimento (ou esperança). A criatura pôde ser salva da agonia pelo ar essencial para a sua existência preso em um recipiente.
A seguir, segundos de agonia bailados por batidas musicalmente orquestradas e repletos de olhares atentos, ansiosos pelo que poderia acontecer. Haveria salvação? Há como voltar atrás? Com uma mão humana, consciente e ativa, Mady começou a ter esperança. Intoxicada, de olhos marejados e corpo estremecido, agarrou-se à chance de sobreviver. Sobre o colo da Messias, a criatura se encolhia junto com seu pulmão, e se expandia também com o mesmo. Repetidas vezes, em incômoda sequência. Quando vai parar?! E para. A drag está viva e transmitiu sua mensagem, impactou até os que estavam em rotação, presos a si mesmos.
Dessa vez eram astros quaisquer (não do mesmo grupo ou universo) em espirais atentos ao botão de flor, ao sol de um sistema influenciado por multiversos, mas que tinha origem própria: opressão sexual. Estrelas-drag puderam abordar temas pertinentes a toda criatura e entidade, de um ponto de vista artístico performático e concernente à vivência da comunidade de corpos que compunham aqueles que, pelas leis multiversais, não poderiam se relacionar por serem iguais, de mesma natureza.
![não ignore a base [de droga]](https://static.wixstatic.com/media/b0f133_13f5c53adb3549b79040a0b0e9e6068e~mv2_d_2304_3456_s_2.png/v1/fill/w_400,h_600,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/s%C3%B3%20o%20p%C3%B3.png)
Os sentidos da arte permeiam o espaço-tempo. A distância no infinito é igual a zero porque tudo leva ao mesmo ponto. Não há limite de como alguém é afetado. Não há previsão de quem vai conquistar. E impedimento de que tipo de corpo celeste vai despertar a luz da transformação. As drags aparecem em mídias que são relevantes para a elevação da persona, com promoção de fotos e vídeos seguindo esquemas de estética virtual, despertando engajamento, interação artista-fã e a vontade de ser uma delas.
No princípio, podem ter sido marginais, mas agora as personagens drag performam em quaisquer circunstâncias e sob influências indefiníveis. Como arte, tem caráter político e subversivo - embora não tenha que ter. Contudo, não se pode desconsiderar a história: personagens inspirados por condições de opressão, a níveis íntimos ou de grande escola. Mas se veio com uma finalidade, para criticar papéis sexuais astrais, então a única lei é não desafiar a gnose que se expande do ser ou entidade artística.
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daemones of soul

nebraska está atenta ao descontrole da vez

bellial se sente torta

a drag é aquela coisa sexy

demônio do vício se consola no sombrio

apesar do blur, você vê?

nebraska decide o humor de hoje

o que o espelho está te mostrando?

a performer extrai luz dos olhos

não ignore a base [de droga]
Câmera por Danty Zarkraus
Grande Reportagem Multimídia
idealizada e produzida por Jefferson Alves